Relato de pesquisadora participante

O encontro na escola, que contou com uma roda de conversa e com a atividade de criação coletiva da instalação, teve a participação de duas pesquisadoras externas aos museus e à escola. Uma delas, Gecia Aline Garcia Carlin (Mestranda em Educação pelo PPGE-UPPR, Licencianda em Pedagogia pela UFPR e Licenciada em História pela PUC-PR), redigiu um relato sobre o evento, apresentando os principais pontos que observou:


O encontro partiu da problematização sobre a compreensão do campo. Afinal, qual compreensão temos da arte e, para além disso, qual a compreensão temos desse espaço chamado museu? Das discussões presentes foi colocado o espaço museológico como um ambiente arbitrário, no sentido de este poder legitimar as obras ali expostas e escolher uma "determinada" Arte. Nesta ótica, o museu seria um espaço “sacralizado” de consagração da arte. Em outra perspectiva, mediada  pelos educadores da CAIXA, a questão tomou um viés mais particular. Qual é minha vivência pessoal em um museu? O que eu sinto? O que compreendo desse Espaço? Algumas pessoas relataram que o museu lhe dá a "oportunidade de falar"; neste caso, o museu comporta subjetividades e oportuniza, assim, um viés mais democrático.
“Espaço que engloba transformações”, também foi dito na roda. Um menino relatou que, em suas mediações, costuma trabalhar com contações de histórias, ou seja, uma experiência da sua vida remetida a uma abordagem metodológica.  
Mas o museu teria uma cara? Qual imagem/Imagens associa-se ao museu? Muitas das respostas dirigiram o museu ao seu formato arquitetônico, uma vez que vários museus trazem como slogan o monumento como imagem oficial. Como ver além dos prédios? Como ampliar o repertório de referências e imagens que construímos do museu? Um diálogo com os professores foi citado como caminho. O museu ir até a escola também foi sugerido. E aqui se desmistifica a ideia da Arte sacralizada, uma vez que ela pode ser e estará sendo pensada, exposta e construída fora do ambiente museológico. Mas quem é o principal rosto divulgador do museu? Achei esta pergunta interessante, porque o principal rosto comunicador do museu é o mediador. E este pode desnaturalizar vários aspectos engessados que dão suporte ao conceito de museu.

“Tem uma catraca no meio do caminho”

O museu não pode ser pensado de forma fragmentada na relação educativa. Quando temos segurança, consciência e maturidade do campo, sabemos que a ação educativa perpassa por todos os locais do museu, o museu como um todo é um espaço educativo e a compreensão disso potencializa a sua atuação educadora em espaços fronteiriços, como a escola, por exemplo. Por isso, o conceito de acessibilidade/acesso tem que estar muito mais preocupado com a qualidade de experiência do indivíduo, do que com a quantidade de pessoas que vai envolver. Abrir as portas, sem produzir sentidos, não garante um processo formador e nem a circulação frequente das pessoas nesse espaço.
Marcar o museu como um território educacional é enxergá-lo como um organismo vivo, um local que contempla uma rede de ações humanas. O conceito de AFETO trazido para a reflexão foi muito importante, pois este não se resume apenas ao carinho e à empatia sentida, mas à maneira como este espaço educativo me afeta/cativa, a ponto de me mobilizar em prol de ações educativas, de ações que reúnam parcerias para a troca de saberes entre museus e outros espaços. Afeto é enxergar as barreiras culturais, linguísticas, de classes, e trazer propostas que acolham todo o tipo de público, da criança pequena, ao refugiado que busca construir no local um novo sentido para a vida.
Do meu ponto de vista, um dos problemas que distancia a escola do museu está justamente na compreensão de Educação. Este conceito foi mecanizado, artificializado. Por isso colocamos o museu em uma caixa separada da escola. Não vemos estas instituições como parceiras no processo de ensino-aprendizagem e formação humana. Por isso é tão importante que todo corpo profissional tenha o conceito de educação claro e amadurecido. Quando a educação é interpretada apenas como um veículo instrumental, conteudista, ela perde seu caráter formador. Acredito que a educação hoje está muito mais atrelada à concepção de instrução do que de formação. Instrução envolve conhecimentos instrumentais (ler, escrever, contar), já a formação envolve a integridade do sujeito, um processo educativo que contempla várias frentes de desenvolvimento. O conhecimento pensado de forma amadurecida, será pensado em uma concepção cultural de imersão. Por isso a vivência em museus é tão importante, ao passo que ela introduz o sujeito em uma atmosfera mais ampla. Aqui é potencializado o processo criativo, a criticidade e a própria formação humana do sujeito.
Na oficina aplicada com as crianças, sobre o conceito de afeto, acredito que a operação educacional foi realizada com louvor. Ela trouxe metas somadas a motivações, o que gera uma ação significativa para quem acompanhou seu processo. Achei interessante como ela despertou a curiosidade das crianças para conhecer quem eram aquelas pessoas que estavam envolvidas, de onde elas vinham. Essa curiosidade aproxima os espaços museu-escola, sem perpetuar a projeção de instituições estrangeiras, pelo contrário, proporciona o elo entre duas instituições parceiras, sendo as pessoas a ponte de contato e “contaminação” de uma rede a outra.

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